Carpaccio de beterraba e cenoura com melaço de romã
Fui almoçar a casa da R. no Alentejo. O dia estava lindo e convidativo a um
encontro entre amigos e a todos os que, apesar de serem conhecimentos recentes
ou mesmo novos, rapidamente se tornaram próximos.
Fui recebida pela R. e pelo A. de uma forma calma, amiga,
descontraída, como se nos conhecêssemos há muitos anos.
A casa, com pormenores em azul céu, emanava a mesma
energia positiva e tranquila dos meus novos amigos. Todos os espaços, cheios de luz e
onde a paisagem verde alentejana espreita pelas janelas, foram articulados de
modo a acolherem, a tornarem-se lugares de memórias, de afectos construídos e
partilhados pelas filhas, família e amigos — mais do que uma casa bonita, sente-se
um ‘home feeling’, o início de um ninho familiar, onde as sucessivas gerações
vão certamente viver óptimos momentos, enriquecendo-os com o seu cunho pessoal. Uma bênção, o espírito desta família.
O almoço foi servido no espaço exterior, peça central da
casa e ideal para esta época do ano, cujo calor da terracota, me trouxe à
memória Luis Barragán.
Centrando o olhar sobre a mesa, os queijinhos de entrada
e os enchidos, acompanhados por fatias de pão alentejano e pelos óptimos
vinhos biológicos Encosta das Perdizes, produzido pelo dono da casa, deram o
primeiro tom à conversa, quebrando o gelo entre os que não se conheciam tão
bem.
Seguiram-se uns ovos fantásticos com farinheira feitos
pelo A., de um amarelo tal, que pareciam os girassóis de Van Gogh. Aquela cor
só mesmo de ovos de galinhas super felizes e que se passeiam alegremente pelo
campo a comer coisas boas! Cá para mim,
têm uma alimentação melhor que a minha!
E depois, veio a feijoada, quentinha, servida como deve,
dentro do recipiente onde foi feita, para não arrefecer!
Um pão-de-ló extraordinário, daqueles molhadinhos,
trazido pela C., uma blättertorte da M. e umas bolachas com flor de sal postas
na mesa pela T., cortados por umas uvas —contrabalanço ácido à enorme provocação
de doces que surgiam diante de nós—, terminaram este banquete.
Mas voltando à razão deste post, ofereci-me para levar
uma entrada para o almoço. Há muito
tempo que queria experimentar fazer um carpaccio de beterraba e cenoura. Abrindo o frigorífico, o melaço de romã, que
tinha guardado, olhava para mim. Pensei
que a acidez e o doce da romã iriam muito bem com a beterraba. E assim foi.
Gostei da mistura dos sabores e não dá trabalho nenhum,
desde que o melaço de romã seja feito antecipadamente.
Melaço de romã
- 500 grs sumo romã
- 50 grs açúcar mascavado
- ½ c sopa sumo limão
Coloque todos os ingredientes no copo da Bimby e programe
40 min/Varoma/vel 2, sem o copo de medida na tampa. Se fizer num tacho, deixe todos os ingredientes a fervilhar durante uns 20 min em lume baixo/médio até atingir um ponto de
compota.
Transfira para um pote de vidro esterilizado. O melaço engrossa
quando arrefece. Manter no frigorífico.
O Lidl, no inverno, vende sumo de romã espremido na hora,
o que facilita o trabalho de retirar os bagos à romã, triturá-los e filtrá-los para
extrair o sumo.
Carpaccio para 6 pessoas
- 2 beterrabas cozidas (ficam mais saborosas se forem
assadas em casa)
- 1 cenoura
- 1 burrata de leite de búfala
- Vinagreta com azeite 2% acidez, vinagre de vinho branco, sal e
pimenta
- 2 c sopa melaço de romã
- Sementes de girassol
- Raspas de laranja (bio)
Com umas luvas calçadas e uma mandolina fatiei as
beterrabas e reservei.
Seguidamente, depois ter lavado a mandolina, fatiei a
cenoura e reservei noutra taça.
Na hora de servir, espalhei as fatias de beterraba na
travessa bonita da R. e, por cima, as rodelinhas de cenoura.
Temperei com a vinagreta e o melaço de romã.
Abri a caixinha da burrata, deitei fora o líquido e,
cuidadosamente, abria-a sobre o carpaccio, espalhando as sementes de
girassol e a raspa de laranja por cima, e terminando com um fiozinho de azeite.
Nota: Como alternativa, podem adicionar-se cominhos
previamente torrados na frigideira e reduzidos a pó. Nesse caso, substitui-se o
melaço de romã por uns fios de mel.
Foi um excelente dia que terminou com um digestivo chá de
alecrim comprado na feira de Estremoz!
E, no meio de tanta festa, ainda conseguimos um cantinho
só para nós, onde as ‘Entrelinhas’ receberam um novo membro (bem-vinda T.) e
escolhemos o livro para a próxima partilha em casa da M.
Obrigada querida R., dia enorme, do qual saí de coração cheio!
(e não só J)
Ana